Como todas técnicas cirúrgicas para reparar o desgaste no quadril, as artroplastias efetuadas nessa região trouxeram aos pacientes benefícios no seu cotidiano, especialmente aqueles que se referem à retomada das atividades físicas.
Toda prótese está sujeita a produzir falhas, que poderão vir a ocorrer em qualquer um dos seus componentes – como na acetabular, cabeça, femoral ou insert.
Quando se coloca uma prótese de menor tamanho e composta por menos componentes, a artroplastia terá maior duração.
ATROPLASTIA DE RECAPEAMENTO
Procedimento com características mais conservadoras, pelo fato de preservar diversas partes ósseas que foram amputadas através da artroplastia convencional, está sendo bem aceita pelo médico ortopedista e também pelos cirurgiões e pacientes.
É importante salientar que a evolução da técnica atualmente em uso fez com que fosse gerado sucesso nos resultados, o que antes não ocorria por conta do polietileno.
As próteses que se utilizam atualmente causam o mínimo de atrito possível, por conta do material empregado (metal-metal ultrapolido) e com desgaste qual igual da cerâmica, o que lhe assegura longa vida útil.
Mas, certamente, existe muito ainda a se pesquisar, desenvolver e aprimorar nesse universo, e que farão com que as próteses aprimorem bastante a sua aplicabilidade e eficiência.
O componente femoral sem cimento, já em uso, é ótimo exemplo disso, na constante busca para reduzir os efeitos do desgaste no quadril.
O recapeamento feito com objetivo de recobrir as superfícies articulares que se mostravam desgastadas teve o mérito de ser a primeira cirurgia de quadril para tratar a artrose avançada.
COMO ERA FEITA?
Na fase inicial da sua aplicação, era restrita em uma taça, que poderia ser metálica ou não, com a função de recobrir a cabeça femoral.
A sua evolução fez com que se transformasse numa prótese total, recobrindo tanto a cabeça de fêmur quanto do acetábulo.
E nesse processo, diversos materiais passaram por testes, em cada um dos lados, etapa ocorrida há muito tempo.
O modelo mais utilizado teve a cabeça confeccionada em metal (cromo-cobalto-molibdênio), sendo o acetábulo constituído em polietileno com ultra-alto peso molecular, técnica cuja mais notória utilização ocorreu nas décadas de 1970 a 1980.
O motivo desse boom na sua aplicação foi que a prótese total, com uso em larga escala naquele período, acabava gerando muitas falhas, por conta das osteólises maciças
SEM RESOLVER O PROBLEMA
Não havia, até então, um meio para evitar as solturas e perdas ósseas, pelo fato de que as técnicas atualmente consagradas, envolvendo enxerto impactado e fixação distal, só obtiveram sua popularidade aplicadas na cirurgia de quadril tempos bem depois, ao longo da década de 1990.
Dessa forma, as tentativas que ocorriam dispensando a utilização da haste femoral foram bem aceitas e seu uso disseminado, com a ressalva de não se dispor de elementos para prever os resultados a longo prazo.
Sabemos que a primeira prótese, e que inclusive antecedeu a resurface, foi criação de Smith-Petersen em 1938, recobrindo unicamente a cabeça do fêmur, tendo sido testados esses materiais: vidro, pirex, baquelite e metal (Cr-Co-Mo), que também foi testada por Charnley, especialmente a técnica com recobrimento com teflon.
Resultados: péssimos, por causa da violenta reação ao corpo estranho.
Foi em 1953 que o ortopedista Haboush procedeu a fixação da primeira taça metálica utilizando cimento.
Já no final da década de 1960 e início da de 1970 ocorreram testes envolvendo diversas técnicas e materiais, comprovando o notório interesse que a aplicação dessa técnica se evidenciava nos cirurgiões.
Dessa forma, testes foram feitos por Mueller (1968), Gerard (1970), Paltrinieri, Trentani e Furuya (1971), esse último no Japão.
Foi no ano de 1972 que Freeman, na Alemanha, procedeu os testes com cabeça de polietileno, tendo o acetábulo em metal e que, dois anos depois, teve uma inversão por conta do desgaste rápido do polietileno cefálico.
NOVOS PROBLEMAS NO PROCEDIMENTO
A fratura do colo foi uma intercorrência que detonaram a técnica utilizada e que era feita utilizando-se uma osteotomia ampla do trocânter maior, somados a outros elementos que tiveram efeito complicador no desenvolvimento do processo cirúrgico.
Lembramos que Nishio, em 1972 no Japão, executou os testes utilizando componente femoral metálico dispensando a utilização do cimento com componente acetabular metálico, tendo sua fixação por pinos.
Mas o fato de ser uma técnica considerada primária acabou invalidando todo o esforço.
E foi em 1975 que Amstutz fez a introdução da artroplastia total interna do quadril com conchas acetabulares excêntricas, mas conhecida por Tharies, mantendo a utilização do polietileno no acetábulo.
Salzer, em 1976, na Suíça, fez uso dos componentes em cerâmica e sem cimento.
Mas a prótese total cimentada, feita com metal-polietileno, teve sua evolução bem acentuada de forma que, ao redor da metade da década de 1980, já havia se tornado uma realidade.
Vale enfatizar que, sob o aspecto tribológico, as próteses de metal-metal com grande diâmetro apresentam menos desgaste, se comparadas com as que tiverem menor diâmetro.
Nesse caso, a velocidade de deslizamento será mais acentuada, o que ajuda na lubrificação de todo o conjunto.
É importante ressaltar que ocorrendo alguma falha no componente femoral, não haverá a obrigatoriedade de se retirar o acetabular, bastando substituir por uma prótese que tenha haste intra-medular com cabeça grande.
GRANDES ENCURTAMENTOS
Hoje temos ciência de que as próteses de recapeamento têm limitações em determinadas situações, especialmente nos grandes encurtamentos, apesar que, se for devido a uma elevação acetabular, ela poderá ter papel efetivo para a correção total do encurtamento.
Existem quatro características a serem observadas quando se pretende fazer o prognóstico de uma cirurgia:
– Formato do fêmur proximal;
– Densidade óssea;
– Se são identificados cistos na cabeça femoral;
– Biomecânica.
Sempre é recomendado analisar criteriosamente todos os fatores que estejam de alguma forma relacionados à situação em que se encontra o paciente.
COMPLICAÇÕES INERENTES AO RESURFACE
São, basicamente, duas: fratura do colo do fêmur e necrose da cabeça femoral, sendo ambas intimamente ligadas.
Nas causas prováveis, destacam-se: necrose prévia e possíveis lesões ocorridas na circulação arterial enquanto o ato cirúrgico era feito.
A lesão da cortical ântero-superior do colo femoral tem sido responsável pelas fraturas ocorridas no colo.